quarta-feira, 5 de novembro de 2008

Quer construir uma (boa) lembrança?

Ainda há pouco eu era só um menino que detestava estudar e nunca escovava os dentes antes de dormir.
Lembro da minha primeira professora, Tia Gracinha, na Escola Menino Jesus de Praga.
Lembro do primeiro livro que li na vida, "O Barquinho Amarelo". Depois dele, não parei mais.
Lembro que já roubei dinheiro da minha mãe para jogar vídeo-game na esquina.
Lembro que comecei a trabalhar com 14 anos e desde então nunca mais ganhei nada dos meus pais. Tudo bem, eu lhes disse que não precisavam se preocupar comigo.

São lembranças aparentemente tolas, sem importância, mas que me levam a refletir: do quê, afinal, somos constituídos?

Começo a perceber que somos feitos das lembranças de tudo que vivemos. Tudo o que sei, penso, escrevo ou canto, vem da minha percepção de mundo, que tem sido construída desde as minhas lembranças mais remotas.

De tudo que vivi, vi, senti, cheirei, peguei e ouvi, apenas as coisas que me marcaram são lembradas; e elas são responsáveis por me mostrar quem eu sou, do quê sou feito, de onde vêm minhas idéias, minhas certezas e contradições.

Chego à conclusão então, que meu mundo é feito daquilo que me vem à memória. E entendo porque o mundo de tanta gente é tão amargo, destrutivo, depressivo e sem esperança. É simples, as pessoas enxergam o mundo sob o prisma das lembranças de tudo que viveram.

Se tiveram decepções na vida, é de decepções que se lembram, e é como decepcionados que escolhem viver; afinal, é tudo que sabem a respeito da vida.

Se viveram mentiras na vida, é de mentiras que se lembram, e é como mentirosos que escolhem viver; afinal, o que é verdade se só nos lembramos e fomos marcados por mentiras?

Se compraram ilusões na vida, é de ilusões que se lembram, e é como iludidos que escolhem viver; afinal, o que mais poderia nos trazer à tona, se tudo não passa de desesperança e ilusão?

Então eu começo a pensar na importância de se viver uma vida simples, baseada na verdade, na sinceridade para comigo mesmo. Afinal, vou me lembrar disso, cedo ou tarde.
E percebo que preciso "trazer à memória aquilo que me dá esperança".

Contudo, isso só será possível se eu tiver vivido paz, sinceridade, honestidade, esperança, amor a Deus, amor a mim mesmo e amor ao próximo como a mim mesmo.
De que modo, em momento de desespero, eu me lembrarei de todas essas coisas, se quando está tudo bem eu não me preocupo em construir essas coisas que um dia serão as lembranças que vão me trazer fôlego?

Temos que plantar boas lembranças, que um dia florescerão e nos mostrarão do quê afinal, somos feitos.

Ainda há tempo. Minha vida é muito curta pra eu achar que A Vida é o que penso dela. Minha existência na temporalidade é muito curta pra eu achar que minhas experiências pessoais resumem A Vida em si. Quem sou eu, diante do que é eterno?

Dai-me forças Deus, pra construir boas lembranças.

*Estava ouvindo a música "(You want to) make a memory?"

Um comentário:

Leilane disse...

Gostei muito do texto, viu!
Vou começar a ler esse negócio aki! rsrsrsrs
Um abraço Júnior!