Rachy foi um extraordinário músico romeno filho de ingleses que viveu no século 19. Quando tocava seu violino, olhos se enchiam de lágrimas e invernos eram aquecidos. Sua música tinha o poder de transmitir sua alma a quem ouvisse. O instrumento era como uma extensão de seu corpo.
Poucos sabiam, mas Rachy tinha uma obsessão. Ele queria achar o tom perfeito. Um acorde que combinasse vida, cor, saudade, tristeza, alegria, nostalgia e euforia. Racky queria misturar todos esses ingredientes em um único som, através de um só acorde musical.
Em sua obsessão e devaneios musicais, Rachy começa sua busca pelo acorde perfeito. Estudou anos a fio seu violino. Sempre que achava ter encontrado, tocava-o como se assoprasse sua alma pelo som, mas aí percebia que sempre faltava um detalhe. Assim foi até que desistiu de seu violino, julgando ser o instrumento incapaz de lhe permitir encontrar o tom perfeito.
Rachy passou a se dedicar então a estudar o piano. Afinal, pensou ele, mais possibilidades podem ser criadas com as teclas. E se dispôs a incansáveis horas de estudo. Por um instante chegou a pensar ter encontrado o acorde perfeito, mas ao perguntar a um ouvinte se ele se sentia eufórico a ouvir, ficou decepcionado com a resposta negativa. E desistiu do piano.
Restava-lhe ainda tentar a doce flauta. Mas logo percebeu que não adiantaria. O som perfeito parecia lhe escapar por entre os dedos. Então, depois de anos de tentativas frustradas, Rachy chegou à conclusão de que o acorde perfeito não existia, afinal, em anos de estudo e dedicação, nunca o encontrara. Rachy desistiu e jurou a si mesmo não mais tocar qualquer instrumento.
E os anos se passaram. Rachy envelheceu. Mesmo que nunca admitisse nem mesmo aos amigos mais íntimos, dentro de si ele sabia que sua vida não faria sentido enquanto não encontrasse o som perfeito.
Rachy é um personagem fictício e ainda não pensei um final pra história dele. O que quero que a gente pense é sobre nossa busca pelo que é perfeito.
Descartes, há séculos atrás, já ligava nossa busca pela perfeição à existência de Deus. Não entendo porque sempre buscamos a perfeição se tampouco sabemos definir realmente o que é perfeito. Perfeição é uma idéia que extrapola nosso discernimento de realidade.
Queremos tudo perfeito. Família perfeita, filhos perfeitos, emprego perfeito, igreja perfeita, amigos perfeitos. Entretanto, quando a busca pela perfeição se torna a razão de vivermos, inevitavelmente experimentamos a frustração. Será que não compreendemos que jamais poderíamos ter algo perfeito sob nosso controle? A beleza da vida está em seres imperfeitos, vivendo vidas imperfeitas, que se encontram e se completam pra viver um amor imperfeito, mas que se aperfeiçoa em meio à fraqueza.
Talvez devêssemos amar mais e deixar que Deus nos aperfeiçoe, se Ele assim o quiser.
Quando eu descobrir o que aconteceu com Rachy, conto a vocês.
domingo, 9 de novembro de 2008
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