quarta-feira, 22 de outubro de 2008

Contradições, Paradoxos e afins...

Algumas características são inerentes à natureza de todos nós, e entre elas posso destacar nossa imensa capacidade de sermos contraditórios. É dito que nada é permanente, exceto a mudança (pensamento atribuído ao grego Heráclito), e nesse emaranhado de alternativas, nos descobrimos um tanto contraditórios. Seixas sabiamente se percebeu uma metamorfose ambulante.

Em meio às nossas fraquezas emocionais e espirituais, temos uma forte tendência de relativizar verdades. Qualquer conceito pode ser verdadeiro ou falso. Válido ou inútil. Depende do quanto ele nos afeta. Assim como o conceito verdadeiro pode ao mesmo tempo ser falso, se em momento oportuno formos favorecidos. Assim, vamos barganhando com nossa consciência, que por um tempo aceita essa colcha de retalhos, mas um dia volta e exige a retirada de nossas máscaras existenciais.

Assim, a gente vai moldando verdades que em pouco tempo serão mentiras.
Inventamos amores eternos que não resistem ao primeiro temporal.
Cultivamos amizades verdadeiras que se revelam tão autênticas quanto qualquer peça teatral.
Estreitamos laços que possivelmente nos enforcarão.

Essas coisas acontecem porque somos contraditórios, somos como crianças incoerentes. Se nos agarrássemos à Verdade, e mesmo que ela se voltasse contra nós, ainda assim não tentássemos trapacear, talvez sofrêssemos menos com variações tão abruptas.

Acredito que o segredo seja fixarmos nossos olhos na Cruz de Cristo, e ainda que encarar os olhos santos daquele que é o Caminho, a Verdade e a Vida nos constranja e mortifique nossas razões, não devemos desviar o olhar. Cristo é a Verdade que foi revelada a nós, e se nos orientarmos segundo o único que não sofre mudanças nem sombra de variação (Tg 1:17), certamente viveremos em autenticidade, e nossas contradições se dissiparão sob a luz da Verdade.

À partir daí, colheremos os frutos de andarmos na Luz, como Ele na Luz está (I Jo 1:7).

domingo, 19 de outubro de 2008

Por que Mt2239?

Como humanos, somos seres totalmente dependentes do inter-relacionamento. A maior tolice que alguém pode ousar imaginar é achar que não precisa de ninguém. E nem é necessário refletirmos profundamente pra chegarmos a essa conclusão.

A constatação dessa realidade nos leva, obviamente, a ponderar a respeito da complexidade dos relacionamentos humanos. Se somos seres totalmente dependentes uns dos outros, até que ponto devemos considerar a individualidade inserida no coletivo social? Até onde cada um de nós realmente é dono de si mesmo? Não seríamos talvez patrimônio da humanidade? Essa tensão entre indivíduo versus coletividade é causa de muitas discussões desde sempre. A propósito, minha visão particular de Direito enxerga nesse embate a raíz de toda a discussão sobre os direitos e deveres de cada um, em respeito aos interesses e desejos da maioria.

Alguns autores que escrevem sobre física quântica afirmam que, num nível profundamente microscópico, tudo no Universo está fisicamente interconectado. Todas as pessoas estariam ligadas umas às outras, assim como também estaríamos ligados às coisas. O mais intrigante em tudo isso é que há alguns testes realizados que sugerem fortemente essa hipótese.

Vamos apreciar por um instante essa possibilidade. Talvez consigamos entender alguns fatos. Quando São Paulo escreveu sua carta aos cristãos romanos (RM 5:12) ele afirmou que por um só homem entrou o pecado no mundo, e pelo pecado a morte. Assim, todos morrerão porque todos pecaram. Tudo isso fica um tanto óbvio se entendermos que estamos ligados uns aos outros e muita coisa pode ser explicada.

Quando amamos o outro, somos amados.
Quando perdoamos o outro, somos perdoados.
Quando estendemos a mão, somos auxiliados no dia em que a necessidade nos alcança.

E é por isso também, que quando odiamos, nós é quem mais sofremos.
Quando não perdoamos não conseguimos sentir o perdão de ninguém. Nem de Deus.
Quando não ajudamos, nos sentimos profundamente sós.
Quando guardamos mágoas e rancores, nosso corpo adoece.

Talvez por isso o riso seja um fenômeno social, coletivo.
As lágrimas também costumam ser.
Talvez por isso sejamos tão parecidos, tão previsíveis.

Quando penso na coletividade começo a entender que Deus não é o culpado da miséria, fome e sofrimento. Ele nos incubiu de sararmos uns aos outros. De cuidarmos uns dos outros, como quem cuida de si mesmo.

Tudo então passa a fazer sentido e a ordem de Jesus registrada por Mateus no capítulo 22, verso 39 (Mt 22:39) é remetida à nossa memória: "Amarás ao teu próximo como a ti mesmo".

Tudo se torna claro. Quando amo meu próximo, estou cuidando de mim mesmo, porque faço parte dessa cadeia, dessa coletividade. O que Jesus estava querendo dizer era "cuide do outro e serás cuidado".

Porque não começar agora mesmo?

quinta-feira, 16 de outubro de 2008

Ao nascer o mundo dos adultos, morre-se a esperança.

Bem vindo ao mundo dos adultos!
Parece sombrio sugerir a morte da esperança, mas é isso que tenho visto desde que deixei de ser menino. Adultos não têm esperança, embora esperem por algo que não sabem o que é, tateando às cegas em busca de sentido e explicações para o que não se pode mensurar: a vida, as pessoas e suas atitudes, a complexidade dos relacionamentos humanos e dos acontecimentos fortuitos que nos cercam.

Observo o comportamento de muitos jovens e me assusto com a ausência de expectativas. O imediatismo está de tal forma se enraizando em nossos atos, que soa estranho e cafona pensar sobre o sentido da vida. Só se pensa em viver o agora. Amanhã é outro dia e veremos do que será feito. Assim, dia após dia, vai se vivendo (ou simplesmente existindo) e sendo levado pelo vento.

No mundo dos adultos há traições. Trai-se o outro e, pior ainda, trai-se a si mesmo. O que se pensa e se sabe sobre a vida é volátil e perfeitamente moldável ao interesse do momento. Toda verdade é relativizada para que possamos justificar nossas frágeis convicções e agirmos de acordo com nossas débeis emoções, que são carregadas de hedonismo e influenciadas por uma sociedade sem valores éticos, sem o sagrado respeito ao próximo.

A conclusão é que perdemos o que se costuma chamar de "localização da referência suprema". "Quem" ou "o quê", é o objeto de nossa fé? Quando não se há um referencial, um sentido, um valor a ser respeitado, vive-se de acordo com emoções e paixões efêmeras. O perigo de se viver assim é que não criamos raízes e estruturas emocionais. Assim, chegamos ao mundo dos adultos totalmente despreparados e sem senso de responsabilidade, coerência e persistência. Persistir em quê, se tampouco sabemos no quê acreditamos?

Assim, os resultados de vidas vazias e desesperançosas estão diante de nós. O amor está se esfriando. A frieza e a superficialidade são perceptíveis em relacionamentos descartáveis. Trocam-se vidas por rápidas emoções. Com uma só tacada, todo nosso castelo desmorona e só aí percebemos que ele era feito de cartas, como diria C. S. Lewis.

O romancista russo Dostoievski sintetizou de forma brilhante e poética uma realidade que procuramos evitar; seja por descrença ou vergonha. Para ele, "todo homem carrega dentro de si um vazio do tamanho de Deus".

O pior é que a gente não se desperta pra essa verdade e continuamos nos machucando pela vida. Haverá um dia em que iremos finalmente aprender?